MERCEDES-BENZ CLC 200K
O BRILHO DA ESTRELA DO CUPÊ BRASILEIRO É OFUSCADO, EM PARTE, PELO SEU IRMÃO ALEMÃO, O SEDÃ CLASSE C DE ÚLTIMA GERAÇÃOO anúncio do novo CLC poderia repetir aquele slogan de 1999, quando lançaram o Classe A fabricado no Brasil: “É você de Mercedes”. Mais uma vez, a estrela de três pontas está na grade de um carro montado em Juiz de Fora (MG). Mais uma vez, o preço é menos inalcançável – 124 900 reais(preços na época do fechamento desta reportagem, em março de 2009). Mas, desta vez, aquele slogan poderia ter um acréscimo: “É você de Mercedes. E preste atenção, agora é um Mercedes de verdade”. Esqueça os Classe A e Classe B importados da Alemanha. Têm preço de carro comum mas são, em grande parte, carros comuns – com tração dianteira, motor na transversal e suspensão traseira por barra de torção. O CLC mineiro é o contrário disso tudo.
Algumas pessoas dirão que não, que um Mercedes não pode ser como esse CLC. Sensor de estacionamento ele não tem (e é quase impossível enxergar pelo vidro de trás). Os bancos da frente têm ajustes manuais. Isso não deveria fazer falta, mas faz. Depois de inventar aquele genial sistema de ajuste elétrico (onde cada botão tem o formato da parte que ele comanda), parece que a Mercedes dispensou a equipe que fazia rodinhas e alavancas. Duas ficam para o lado de fora, mas aquela que reclina o encosto fica para dentro. É preciso espremer o dedo e girar o corpo. Mas, aqui e na Europa (onde foi lançado em janeiro de 2008), o cupê é visto como um carro para iniciantes – 70% dos seus compradores nunca tiveram um Mercedes. Essas simplicidades deixam o CLC ainda mais didático, ao apresentar os valores da marca. Quem quiser banco de couro e perfumarias pode procurar na outra montadora com fábrica em Minas Gerais. A marca alemã é sóbria. O painel é uma paleta de tons de cinza, com ótimos encaixes, e o revestimento do console usa alumínio de verdade. E tem mais: fáceis ou difíceis, os ajustes de banco não serão usados com frequência. O CLC não é o único automóvel da casa, que fica trocando de motorista. É carro de um dono só. E sem família. O banco de trás tem espaço para crianças, mas daria muito trabalho levá-las no colo até ali. O cupê é para quem precisa externar o id e o ego.
Em qualquer outra situação, é melhor levar o irmão, C 200 K. Por 17 000 reais a mais, o sedã tem mais espaço e liquidez. O cupê tem a missão de ser o carro de entrada, mas a economia de escala lhe é absolutamente desfavorável: em 2008, vendeu 28 000 unidades no mundo inteiro, contra 291 700 unidades do sedã. Para cortar custos, os dois irmãos receberam tratamento diferenciado. Enquanto o Classe C ganhou uma geração nova e muito bemsucedida (que atende pelo código W204), o cupê evoluiu pela metade. Na nomenclatura da empresa, atende por W203-2: é o antigo C Sports Coupé (W203), que teve trocadas 1 100 de suas 5 000 peças. A carroceria mudou as beiradas e manteve o meio.
O vidro traseiro é tão inclinado que dispensa limpador: o vento não deixa molhar. A lateral não traz os vincos fortes que estão na moda
Mas entre as peças novas do cupê existem algumas interessantes. A direção tem relação indireta se você girar pouco o volante (para manobras sutis, em velocidade) e bastante direta, se girarmos um tanto mais (para reagir a qualquer situação sem o motorista precisar cruzar os braços). Outra novidade está no motor – que é 1.8, apesar de essa versão chamar-se “200 K”. Faz algum tempo, os nomes dos modelos não têm mais a ver com o tamanho dos motores. O “K”, esse sim, continua significando “Kompressor”. O compressor mecânico é típico da Mercedes. Na hora de sobrealimentar um motor, as montadoras preferem turbocompressores, que trazem maior aumento de potência. A Mercedes vai contra a corrente porque procura um funcionamento mais constante, menos nervoso.
Tranquilidade e constância é o que se encontra nesse cupê. Com 184 cv, o motor não chega a ser uma força da natureza, mas também não deixa faltar. O CLC 200 K roda como um carro de luxo, com direção e suspensão levemente esportivas, até que você olha o velocímetro e se dá conta de que os largos pneus Continental já poderiam estar cantando uns 40 km/h atrás.
O cupê foi de 0 a 100 km/h em 9,6 segundos – bem melhor que seu maior rival em prestígio, o BMW 120i (com 11,5 segundos), porém distante de Audi A3 Sportwagon 2.0 e Volvo C30 2.5, que fecham essa conta em 7,5 segundos. Mas correr, para um autêntico Mercedes, não é objetivo de vida. Poder fazer – e não ficar mostrando isso o tempo todo – é mais importante. É o caso desse CLC.
OS RIVAIS
Audi A3 Sportback 2.0 TFSI
O estilo entre hatch e perua é controverso, mas o motor 2.0 é ótimo. Por 124 063 reais.
Volvo C30 T5
Por 127 900 reais dá para levar o modelo top, com motor turbo de cinco cilindros e 230 cv.
DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO
A direção, pouco mais pesada que a do sedã, traz precisão e agilidade. A suspensão faz o CLC acompanhar esportivos bravos, sem perder o conforto.
MOTOR E CÂMBIO
O motor é suave e muito econômico, mas faz o carro andar apenas bem.
CARROCERIA
As laterais são as do antigo Sports Coupé – a falta de vincos fortes, que estão na moda, acaba denunciando a idade.
VIDA A BORDO
Quanto custa incluir um simples sensor de estacionamento? Poucos carros precisam tanto disso quanto o CLC. Os botões de vidro elétrico e os ajustes do banco são mal localizados, o rádio poderia ser mais amigável e os vidros poderiam fechar ao comando da chave. Mas é um carro confortável, de acabamento apurado e com bons bancos.
SEGURANÇA
Faróis direcionais, seis airbags, mais ABS e controles eletrônicos de estabilidade e tração. Um braço de plástico deixa o cinto de segurança ao alcance de quem vai na frente.
SEU BOLSO
O prestígio da Mercedes é garantia de valor de revenda estável, mas o CLC parece caro diante dos concorrentes e de seu irmão, o C 200 K.
VEREDICTO
Dentro de casa, o CLC 200 K perde para o sedã C 200 K: não chega a ser mais exclusivo, mais bonito ou muito mais barato. Contra Volvo C30 e Audi A3 Sporback, o CLC vai depender muito do carisma da estrela: os rivais são ótimos.
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